Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?
Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?
(Machado de Assis)
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
sábado, 28 de novembro de 2009
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
domingo, 15 de novembro de 2009
O ignorante político
O pior analfabeto
não é quem não sabe ler e escrever,
que se guia pelas cores dos ônibus,
que não frequenta uma escola,
e escreve o nome com sua digital.
O pior analfabeto
É o analfabeto politico
Ele não ouve,
não fala,não vê
nem quer saber
nem participa da vida que lhe cerca
nem dos acontecimentos políticos
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão,
do peixe,
da farinha, do aluguel,
do sapato e do remédio
inclusive a educação
dependem das decisões políticas
O analfabeto político é tão burro
que se orgulha e estufa o peito,dizendo que odeia política
Não sabe que da sua ignorância política,
nasce a corrupção,
a universidade sucateada,
o menor abandonado, o assaltante
e o pior de todos os bandidos:
que é o político vigarista,
pilantra, o corrupto
e o lacaio das empresas nacionais e multinacionas
e os bajuladores da ordem que matam de bala ou de fome.
(Adaptado de um texto de B.B)
não é quem não sabe ler e escrever,
que se guia pelas cores dos ônibus,
que não frequenta uma escola,
e escreve o nome com sua digital.
O pior analfabeto
É o analfabeto politico
Ele não ouve,
não fala,não vê
nem quer saber
nem participa da vida que lhe cerca
nem dos acontecimentos políticos
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão,
do peixe,
da farinha, do aluguel,
do sapato e do remédio
inclusive a educação
dependem das decisões políticas
O analfabeto político é tão burro
que se orgulha e estufa o peito,dizendo que odeia política
Não sabe que da sua ignorância política,
nasce a corrupção,
a universidade sucateada,
o menor abandonado, o assaltante
e o pior de todos os bandidos:
que é o político vigarista,
pilantra, o corrupto
e o lacaio das empresas nacionais e multinacionas
e os bajuladores da ordem que matam de bala ou de fome.
(Adaptado de um texto de B.B)
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
A palavra mágica
Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.
Carlos Drummond de Andrade
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.
Carlos Drummond de Andrade
domingo, 1 de novembro de 2009
Ler devia ser proibido
«A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.
Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.
Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observe as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?
É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metros, ou no silêncio da alcova… Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.
Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.
Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.
Além disso, a leitura promove a comunicação de dores e alegrias, tantos outros sentimentos… A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
“Ler pode tornar o homem perigosamente humano.»
Guiomar de Grammom
Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.
Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.
Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?
Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.
Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.
Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.
Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.
O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observe as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?
É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metros, ou no silêncio da alcova… Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.
Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.
Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.
Além disso, a leitura promove a comunicação de dores e alegrias, tantos outros sentimentos… A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.
“Ler pode tornar o homem perigosamente humano.»
Guiomar de Grammom
OUTUBRO DE 2002 - Trecho do Livro: Calendário do Poder
Não se pense que javé se lançou à obra da Criação com os próprios braços. Deitado eternamente em berço esplêndido incumbiu serafins e querubins de executarem o projeto América Latina. Animados, os anjos puseram mãos à obra, convencidos de que da prancheta do Grande Arquiteto resultaria o melhor.
Lá pelas tantas os serafins estranharam pequenos erros de cálculo. Ora, não fora tudo previsto pela Infinita Sabedoria? Perante desajustes evidentes, alguns anjos relaxaram no trabalho: aos olhos dos arcanjos, pareceu boicote ao projeto.
Bom patrão, Javé dispôs-se a dialogar com os relapsos:
- Por que têm faltado ao trabalho?
- Porque o projeto não é justo respondeu o líder dos serafins.
- Como não é justo? Espantou-se o Sumamente Justo.
- Veja Senhor – argumentou o anjo, o México é proporcional à Argentina: a Nicarágua à Bolívia: o Panamá ao Uruguai. Mas há um país demasiado grande na América do Sul. Por que não dividi-lo em cinco ou seis, e evitar no futuro queixas de que o Senhor privilegiou o Brasil?
Irritado por duvidarem de sua imparcialidade, Javé reagiu:
- Sei muito bem o que faço. E ordenou: Prossigam a obra.
Dias depois, Javé viu a sua Infinita Paciência abalada pela notícia de que os querubins, mais politizados, organizados no sindicato angélico, haviam entrado em greve. Sem temer afrontas, compareceu à assembléia da categoria:
- Por todos os santos, qual é a reclamação agora?
- Os serafins têm razão, Senhor – explicou o líder. – O projeto é realmente injusto. Não podemos prossegui-lo.
- Ora, o que há de errado em criar países com dimensões distintas? Retrucou Javé. – A um continente quadriculado, prefiro a diversidade, como fiz com as espécies de vida.
- Não se trata de proporcionalidade territorial – disse o anjo. – Preocupam-nos os fenômenos naturais destinados a cada país. – Veja Senhor: há desertos no Chile, no Peru e no México; no Brasil, nenhum. Vulcões na Nicarágua e furacões em Cuba: no Brasil, nenhum. Terremotos no Peru, na Guatemala, na Nicarágua, em El Salvador e no México; no Brasil, nenhum. Neve e geleiras em toda a região andina; no Brasil, apenas um neviscar, três noites por ano em São Joaquim (SC), para atrair turistas.
Outro completou:
- Nós da direção sindical, desconfiamos que, após o fracasso do Èden, o Senhor nutre a intenção de reeditar o Paraíso no Brasil.
- Valha-me Deus! - Exclamou Javé. - Expliquem melhor.
- O Èden não faliu por causa de uma maldita árvore? Entre os países, o Brasil é dos raros com nome de vegetal. Dadas as suas dimensões continentais, a ausência de qualquer catástrofe natural e os imensos recursos a ele reservados, concluímos que o Senhor pretende reinaugurar ali o Paraíso, não é verdade? Ou como explicar o projeto de conferir ao Brasil um excelente clima tropical; a maior bacia hidrográfica do mundo; oito mil quilômetros de costa; uma floresta que absorverá boa parte do dióxido de carbono da atmosfera; mais de 600 milhões de hectares cultiváveis e potencial para três safras por ano?
Javé cofiou a longa barba e admitiu:
- Sim, confesso, tive a intenção de abençoar o Brasil de modo especial. Mas sei, por minha onisciência, que lá, por muitos anos, não será o Paraíso. Esperem só pra ver que tipo de políticos aquela gente haverá de eleger. O estrago, ao menos nos primeiros séculos após a chegada de Cabral, será muito grande: haverá miséria, desigualdade, discriminação, corrupção e violência. Crianças abandonadas andarão ameaçadoras pelas ruas e agricultores ficarão à beira de rodovias à espera de um pedaço de terra. Como não perco a esperança, pode ser que, um dia, os eleitores descubram que, ao votarem a favor da justiça social, o Brasil estará muito perto se vir a ser um Paraíso.
Frei Beto
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