quarta-feira, 28 de abril de 2010

Palavras

Há palavras muito belas,
Palavras lindas, singelas
Que falam com as estrelas.
Há as palavras vivas, festivas,
Activas e subversivas.
Palavras sentimentais,
Lascivas e sensuais.
Palavras presas no cais.
E há as palavras nocivas,
E outras muito abusivas
Difícil é descrevê-las.

Há palavras maltratadas,
Destruídas, desprezadas.
Há palavras eruditas
Bonitas e complicadas.
Lapidadas e polidas.
Há as palavras certeiras,
Profundas e verdadeiras.
Mas há palavras imundas,
Cruéis, vis e traiçoeiras.
Há palavras imbecis
E há palavras grosseiras.

Há palavras muito trágicas
E há as palavras mágicas
Há palavras sem fronteiras,
Sem limites, sem barreiras.
Há também a teoria,
E a palavra que convém.
Diplomacia, circunstância,
Há a palavra vazia
No meio da abundância.
A palavra intolerância
Ao lado da arrogância.

Prosseguindo o meu passeio
Na poeira das palavras
Encontro lá bem no meio
Saindo da nebulosa
As palavras redentora,
Sonhadora, criadora,
Amorosa e sedutora.
Mas também a rancorosa
Invejosa e mentirosa.
Palavra demolidora
E a palavra perigosa.

No caminho que se trilha
Há a palavra que brilha
Há a pedra, há a mágoa
Há a água e a ilha.
Há as palavras saudade,
Sinceridade e verdade.
Deslumbramento e cor.
Há ternura, encantamento.
Há sofrimento e há dor.
E escritas no firmamento
Está Liberdade e Amor!...

(Autor desconhecido)

terça-feira, 27 de abril de 2010

O poeta é um fingidor

 
O poeta é um fingidor,
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

                                          (Fernando Pessoa)

sábado, 24 de abril de 2010

Meu Deus, me dê a coragem...


Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de Tua presença. Me dê a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude. Faça com que eu seja a Tua amante humilde, entrelaçada a Ti em êxtase. Faça com que eu possa falar com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala. Faça com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo. Faça com que a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. Receba em teus braços meu pecado de pensar.
(Clarice Lispector)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Reinações de Narizinho / Texto: A costureira das fadas.


A COSTUREIRA DAS FADAS

Depois do jantar o príncipe levou Narizinho à casa da melhor costureira do reino. Era uma aranha de Paris, que sabia fazer vestidos lindos, lindos até não poder mais! Ela mesma tecia a fazenda, ela mesma inventava as modas.
– Dona Aranha, disse o príncipe, quero que faça para esta ilustre dama o vestido mais bonito do mundo. Vou dar uma grande festa em sua honra e quero vê-la deslumbrar a corte.
Disse e retirou-se. Dona Aranha tomou da fita métrica e, ajudada por seis aranhinhas muito espertas, principiou a tomar as medidas. Depois teceu depressa, depressa, uma fazenda cor-de-rosa com estrelinhas douradas, a coisa mais linda que se possa imaginar. Teceu também peças de fitas e peças de renda e peças de entremeios – até carretéis de linha de seda fabricou.
– Que beleza! – ia exclamando a menina, cada vez mais admirada dos prodígios da costureira. – Conheço muitas aranhas em casa de vovó, mas todas só sabem fazer teias de pegar moscas; nenhuma é capaz de fazer nem um paninho de avental...
– É que tenho mil anos de idade – explicou dona Aranha – e sou a costureira mais velha do mundo. Aprendi a fazer todas as coisas. Já trabalhei durante muito tempo no reino das fadas; foi eu quem fez o vestido de baile de Cinderela e quase todos os vestidos de casamento de quase todas as meninas que se casaram com príncipes encantados.
– E para Branca de Neve, também costurou?
– Como não? Pois foi justamente quando eu estava tecendo o véu de noiva de Branca que fiquei aleijada. A tesoura caiu-me sobre o pé esquerdo, rachando o osso aqui neste lugar. Fui tratada pelo doutor Caramujo, que é um médico muito bom. Sarei, embora ficasse manca pelo resto da vida.
– Acha que esse tal doutor Caramujo é capaz de curar uma boneca que nasceu muda? – perguntou a menina.
– Cura, sim. Ele tem umas pílulas que curam todas as doenças, exceto quando o doente morre.
Enquanto conversavam dona Aranha ia trabalhando no vestido.
– Está pronto, disse ela por fim. Vamos prová-lo.
Narizinho vestiu-se, indo ver-se ao espelho.
– Que beleza! – exclamou, batendo palmas. – Estou que nem um céu aberto!...
E estava mesmo linda. Linda, tão linda no seu vestido de teia cor-de-rosa com estrelinhas de ouro, que até o espelho arregalou os olhos de espanto.
Trazendo em seguida o seu cofre de jóias, dona Aranha pôs na cabeça da menina um diadema de orvalho, e braceletes de rubis do mar nos braços, e anéis de brilhantes do mar nos dedos, e fivelas de esmeraldas do mar nos sapatos, e uma grande rosa do mar no peito. Mais linda ainda ficou Narizinho, tão mais linda que o espelho arregalou um pouco mais os olhos, começando a abrir a boca.
– Pronto? – perguntou a menina, deslumbrada.
– Espere – respondeu Dona Aranha Costureira. Faltam os pós de borboleta.
E ordenou às suas seis filhinhas que trouxessem as caixas de pó de borboleta. Escolheu o mais conveniente, que era o famoso pó Furta-todas-as-Cores, de tanto brilho que parecia pó de céu-sem-nuvens misturado com pó de sol-que-acaba-de-nascer. Polvilhada com ele a menina ficou tal qual um sonho dourado! Linda, tão linda, tão mais, mais, mais linda, que o espelho foi arregalando ainda mais os olhos, mais, mais, até que – crac!... – rachou de alto a baixo em seis fragmentos!
Em vez de ficar danada com aquilo, como Narizinho esperava, dona Aranha pôs-se a dançar de alegria.
– Ora graças! – exclamou num suspiro de alívio. Chegou afinal o dia da minha libertação. Quando nasci uma fada rabugenta que detestava minha pobre mãe, virou-me em aranha, condenando-me a viver de costura a vida inteira. No mesmo instante, porém, uma fada boa surgiu e me deu esse espelho com estas palavras: "No dia em que fizeres o vestido mais lindo do mundo, deixarás de ser aranha e serás o que quiseres".
– Que bom! Aplaudiu Narizinho. – E no que vai a senhora virar?
– Não sei ainda, respondeu a aranha. – Tenho de consultar o príncipe.
– Sim, mas não vire em nada antes de fazer destes retalhos um vestido para a Emília. A pobrezinha não pode comparecer ao baile assim em fraldas de camisa como está.
– Agora é tarde, menina. O encantamento está quebrado; já não sou costureira. Mas minhas filhas poderão fazer o vestido da boneca. Não sairá grande coisa, porque não têm a minha prática, mas há de servir. Onde está a senhora Emília?
Narizinho não sabia. Depois que furtou os óculos da velha e saiu correndo, ninguém mais vira a boneca.
Dona Aranha voltou-se para as seis aranhinhas.
– Minhas filhas – disse ela, – o encanto está quebrado e logo estarei virada no que quiser. Vou, portanto, abandonar esta vida de costureira, deixando a vocês o meu lugar. O encantamento continua em vocês. Cada uma tem de conservar um pedaço do espelho e passar a vida costurando até que consiga um vestido que o faça rachar de admiração, como sucedeu ao espelho grande.
Nisto o príncipe apareceu. Narizinho contou-lhe toda a história, inclusive a atrapalhação da aranha quanto à escolha do que havia de ser.
O príncipe observou que seu reino estava com falta de sereias, sendo muito do seu agrado que ela virasse sereia.
– Nunca! – protestou Narizinho, que era de muito bons sentimentos. – Sereias são criaturas malvadas, cujo maior prazer é afundar navios. Antes vire princesa.
Houve grande discussão, sem que nada fosse decidido. Por fim a aranha resolveu não virar em coisa nenhuma.
– Acho melhor ficar no que sou. Assim, manca duma perna, se viro princesa ficarei sendo a Princesa Manca; se viro sereia, ficarei sendo a Sereia Manca – e todos caçoarão de mim. Além do mais, como já sou aranha há mil anos estou acostumadíssima.
E continuou aranha.

A costureira das fadas (Monteiro Lobato)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Eu sou assim...



“Sou como você me vê,
posso ser leve como uma brisa,
ou forte como uma ventania,
depende de quando,
e como você me vê passar.
(Clarice Lispector)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Ler ou não ser x Ler ou não ver.


“Ler ou não ser.
Ler ou não ver.
Ler ou não ter a força criativa de organizar com os
olhos o volume e o peso do caos.
Uma pessoa capaz de ler o mundo como uma história
terrível e no entanto maravilhosa
concilia em si o desconcerto e a esperança,                                                    o medo e o amor. 
E é na leitura amorosa dos livros,
dos grandes livros, que conseguimos desenvolver esta
capacidade.”

(Gabriel Perissé) 

sábado, 3 de abril de 2010

Páscoa

Pessach (do hebraico פסח, ou seja, passagem), também conhecida como Páscoa judaica, é o nome do sacríficio executado em 14 de Nissan segundo o calendário judaico e que precede a Festa dos Pães Ázimos (Chag haMatzot). Geralmente o nome Pessach é associado a esta festa também, que celebra e recorda a libertação do povo de Israel do Egito, conforme narrado no livro de Shemot (Êxodo).
De acordo com a tradição, a primeira celebração de Pessach ocorreu há 3500 anos, quando de acordo com a Torá, Deus enviou as Dez pragas do Egito sobre o povo do Egito. Antes da décima praga, o profeta Moisés foi instruído a pedir para que cada família hebréia sacrificasse um cordeiro e molhasse os umbrais (mezuzót) das portas com o sangue do cordeiro, para que não fossem acometidos pela morte de seus primogênitos.

Chegada a noite, os hebreus comeram a carne do cordeiro, acompanhada de pão ázimo e ervas amargas (como o rábano, por exemplo). À meia-noite, um anjo enviado por Deus feriu de morte todos os primogênitos egípcios, desde os primogênitos dos animais até mesmo os primogênitos da casa do Faraó. Então o Faraó, temendo ainda mais a Ira Divina, aceitou liberar o povo de Israel para adoração no deserto, o que levou ao Êxodo.
Como recordação desta liberação, e do castigo de Deus sobre Faraó foi instituído para todas as gerações o sacríficio de Pessach.
É importante notar que Pessach significa a passagem, porém a passagem do anjo da morte, e não a passagem dos hebreus pelo Mar Vermelho ou outra passagem qualquer, apesar do nome evocar vários simbolismos.
Um segundo Pessach era celebrado em 14 de Iyar,para que pessoas que na ocasião do primeiro Pessach estivessem impossibilitadas de ir ao Tabernáculo, fosse por motivos de impureza , ou por viagem .